Ronda nos bairros



“Ronda nos bairros”
Por Junior Nodahi


Feira de Santana
06 de Outubro

Estávamos patrulhando uma área considerada perigo da cidade, nós éramos do patrulha nos bairros, umas das poucas coisas uteis do governo Wagner, éramos mal remunerados, mas pelo menos tínhamos gasolinas nas viaturas.

Meu nome é Soares, oficial Josildo Soares, sou um PM. A oito anos faço parte da corporação, algo bom, pois ainda estou vivo, vivo e gordo por sinal, mas fazendo regime para não ficar fora de forma.

Eu patrulhava naquela noite com mais dois oficiais, o Sergio “coelhinho” e o sargento silva, tínhamos recebido um chamado, falando que dois elementos estavam rondando uma casa, e nos deslocamos para lá. Chagamos constatamos, constatamos não, sentamo a mão, nos dois elementos, que logo alegaram serem estudantes, pratica muito usada depois do filme tropa de elite.

Logo após a revista deles, os liberamos. Claro que com um aviso de que se voltássemos a nos encontrar não seríamos tão cordiais. Eles aparentemente entenderam o recado e foram embora, tudo estava indo bem até o momento. Coelhinho sugeriu para nós passarmos em uma praça, onde tinha uma barraca de acarajé que ele era freguês.

Paramos a viatura bem em frente a barraca, as pessoas que esperavam por seus acarajés ficaram assustadas, cumprimentamos o barraqueiro e pedimos duas acarajés, seriam três, mas o sargento Silva, como sargento que é , disse que não come em serviço, então pensamos que por nós ele poderia morrer de fome.

Cinco minutos depois, e alguma conversa jogada fora com o Sérgio Coelhinho, nossos acarajés estavam em mãos, ele não nos cobrou, mas o Sergio fez questão de pagar, já eu não fiz tanta questão, compreendida pelas pessoas que ali na file esperavam.

De barriga cheia e cara melada de vatapá, entrei na viatura, era eu que ia dirigir dessa vez, iríamos para outro ponto, não tão distante dali. O radio soava loucamente quando liguei o carro, eram chamados, mas como queria que fossem o jogo do vasco que passava hoje, mas não poderia reclamar, era meu trabalho, em uma plena quarta de jogo, mas era o bem dito trabalho.

Já eram umas 21:30 quando passamos por uma cena que nos fez parar e descer da viatura, realmente não queríamos descer, pois a viatura estava quente e aconchegante. Fomos até a calcada onde um homem deflagravas violentas bordoadas em um garoto de idade menor, nos aproximamos e perguntamos

- Algum problema ai senhor?

Ele nos olhou meio desconfiado, e foi logo se justificando, mas sem largar da gola do guri que estava quase roxo.

- estou educando seu puliça, olha, olha aqui o que essa fila da puta fez no cabelo, já num basta agente morrar num bairro violento, o infeliz ainda pinta a porra do cabelo de amarelo.

Nós logo entendemos, Sargento Silva falou baixinho

- se fosse meu filho eu tinha arrancado o cabelo com a mão.

Lidamos bem com a situação a parir daquele ponto. Falamos para o pai resolver seus problemas familiares em casa, e não na rua. Ele entendeu que esse era nosso dever e não resmungou. Falamos para ele pegar duro com o garoto, ter pulso, pois seria melhor ele educar agora do que nós num futuro.

Ele ficou agradecido, e arrastou o guri pela orelha. Quando nos demos conta tinha outros três elementos aparentemente menores do outro lado da rua. Fomos até lá para não perder a viagem e para dar um pouco mais de exemplo para essa juventude. Eles nos receberam bem até, não estavam assustados, nos responderam o boa noite e foram logo mostrando a carteira de identidade, o que nos levou a achar que eles já deviam ter sido abordados antes, o que não teria graça nenhuma para nós.

Revistamo-los também, mas não achamos nada. Voltamos então para viatura afim de ouvir o radio. Um chamado, o mais radical da noite, mas arriscado do que comer a acarajé daquele cidadão. Era um roubo, roubo a um mercadinho.

Entramos radiantes na viatura, finalmente a noite iria começar, talvez poderíamos até usar a arma se descemos sorte, Sergio ria como uns bonequinhos vermelhos que vi num comercial noite passada, um que agente passa a mão na barriga e ele começa a rir descontroladamente.

Dirigir com tudo, botei 120 km no retão, a sirene soava feito louca, silva já segurava a pistola 9mm preta de costume. Paramos na porta do mercadinho e vimos dois indivíduos saírem correndo por entre a escuridão, a mulher do caixa gritava –pega esses safados – entendemos o recado, coelhinho ficou com a mulher para ver o que tinha acontecido. Eu e silva saímos a mil na viatura para pegas os elementos.

Os elementos entram num gol branco 97 de placa jkl-4520 de traseira com adesivo do PT, eles corriam o máximo que dava com aquele carro, e nós estávamos logo atrás deles. Silva gritava –Atira, atira nesses fila da puta! – não dava para atirar, eu estava dirigindo a uns 100km por hora podia perder o controle. Silva saia com a cabeça pela janela e berrava –para seus infeliz do cão! Eu vou pegar vocês sés merda
– silva não atirava, deveras também por ser uma rua publica e movimentada, poderia
acertar algum civil.

Lembramos logo de pedir reforço, falamos no radio raio xiadento que estávamos perseguindo um carro cheio de ladrões dentro. Ouvimos uma resposta, a típica vos de pessoa apertando o nariz para falar, parecendo o darth vader com renite.

Entre a perseguição e o pedido de reforço, paramos de olhar para o carro, quando nos demos conta, agora eram dois gols brancos nos 97 com adesivos do PT. Era uma armadilha planejada, ou só conhecidencia? Não importava, estávamos putos com aquilo tudo, eu berrava – como pode duas merdas iguais agora – e nesse momento cada uma
virou em uma esquina diferente tínhamos que escolher, e escolhemos.

Perseguimos ele por alguns metros e ela parou, avia algo de errado, por que eles parariam? Desceram dois caras de dentro do gol, um estava sem camisa e o outro tinha o bigode pintado de loiro. Silva foi logo pra cima, descendo o cassetete nas costelas do elemento, quer dizer, educando o elemento.

Momentos depois descobrimos que tínhamos escolhido o gol branco ano 97 com adesivo do PT errado. Revistamos eles varias vezes, e o carro também. Tínhamos escolhido o carro errado, tínhamos perdido os elementos verdadeiros, mas tínhamos que prender alguém, alguém deveria pagar por todo aquele esforço. Foi nessa hora que sargento silva, esperto como é, se não, não seria sargento, reparou numa sacola do “g Barbosa” que ali estava.

A sacola foi revirada e transvirada, mas nada foi encontrado. Então levamos eles assim mesmo, se não tem tu, vai tu mesmos.

Ao chegar na DP e explicar tudo ao delegado Correia que estava doido para ir pra casa, provavelmente para desfrutar de sua nova esposa de 23 aninhos, um doce de mulher. Ouviu nossa história. Enfim veio a fatídica pergunta. Por que motivo vocês trouxeram os elementos errados pra qui?

Enrolamos um pouco, gaguejamos outro tanto, mas como estávamos em três, e com a experiência do sargento silva do nosso lado, falamos

- o shampoo, eles tinham um shampoo. O shampoo roubado era um Seda Liso Extremo, mas o elemento tinha cabelo crespo, algo estava muito errado, nós precisávamos agir, e agimos.

O delegado nos olhou nos olhos e balançou a cabeça com um sinal positivo – bom trabalho homens, menos marginais na rua essa noite - e foi embora. Tudo tinha se normalizado finalmente. A mulher do mercadinho não recuperou seu dinheiro, mas teve de volta um shampoo, os bandidos ficariam na cadeia, o delegado ficaria feliz, nós tínhamos cumprido nossa obrigação, e os verdadeiros elementos do gol branco ano 97 com adesivo na traseira do PT nunca existiria.

Assim terminamos mais um relatório de ronda nos bairros.

Ass: oficial Josildo Soares

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