Uma história emocionante



 ‘’Uma bela história de vida’’
  Por: Junior Nodachi

Algumas histórias são feitas de pessoas, feitas de cada pedaço de fatos vivenciados e sentidos pelas próprias, cada suspiro de vida transmitido em uma pagina velha ou nova de algo que será supostamente eternizado.

- Bom dia, este é mais um encontro do DVCA, dependentes e viciados do capeta anônimos, hoje nós temos algumas caras novas aqui entre nós, e eles como ‘’novatos’’, devem ser bem recebidos e apoiados tão quanto os mais veteranos.
  
Carlos era um jovem empresário, que se viu em uma época deturpada de sua vida seu ‘’império’’ desmoronar de um dia para noite, devido as seus atos incontroláveis e avassaladores. Carlos era um dependente, um dependente químico.

Carlos desde pequeno se via em situações descontroladas. Na venda do seu Joaquim, na casa de seus tios, sobre as asas de seu pai, Doutor Marcos, ele já mostrava seu verdadeiro ser. Tudo começou bem cedo na vida do Carlos, amigos, amores, escolas, ele se formou com 15 anos, com as melhores notas e com boas recomendações, entrou para universidade no ano seguinte, um filho prodigo aparentemente. Mas o que as paredes escondiam era o verdadeiro e destrutivo objetivo de Carlos, ele era viciado.

- Bom dia novamente, meu nome é Carlos e eu sou o diretor e organizador do DVCA, para quem não me conhece, eu já fui um grande empresário do ramo de exportações, mas minha vida tomava outro rumo, o rumo do vicio. Eu estou a  seis anos limpo... a seis longos anos que eu não boto uma dose de coca-cola na boca.

(palmas)

- Bom então vamos começar. Por que vocês novos e bem vindos membros não se apresentão primeiro.

- Bom dia, meu nome é Nodachi, Junior Nodachi.

(Bom dia Junior)

- eu já conheço os passos do programa, e sei que a primeira coisa é admitir, e isso pelo menos eu já consigo. Eu sou viciado.

(palmas)

- Eu... Eu sou viciado em azeitona, eu sei que é um vicio meio estranho, comecei muito cedo, eu via aquele povo na TV bebendo vodka e comendo azeitona e pensava: nosso como esse troço verde deve ser legal. Minha primeira experiência não digo que foi das muito agradáveis, foi numa pizza, eu ainda era bem novinho, ela tava me olhando, nesse momento eu me lembro dos comercias, da mídia que me induzia a comer à azeitona.

A primeira vez que comi... (soluço), aquela azeitona, você pensa: é moda, eu sou um cara maneiro, mas eu não aguentei. Era verde, e azeda, muito ruim mesmo, mas meus amigos me incentivavam, falavam: vai, é só uma azeitona cara, isso num faz mal pra ninguém, é até bom pra saúde. Bom pra saúde, uma coisa que com certeza não era, uma coisa daquele só podia fazer mal, eu sabia, mas a pressão foi maior. E com isso foram dias, meses, anos, e eu já havia me tornado um especialista em azeitona, já conhecia varias marcas, tanto nacionais quanto internacionais, tipos, cores, formatos. Por um tempo pensei até em comercializar, quem sabe virar um chefe de cozinha, ou algo assim... (choro e lagrimas)... desculpa, eu não consigo mais.

Todos viam a fria e atormentada expressão na cara daquele jovem, um jovem mesmo, ainda tinha toda vida pela frente. Alguns choravam juntos, outros o confortavam, pouco a pouco uma salva de palmas foi puxa, Carlos deu-lhe um abraço e voltou para sua cadeira. Logo já estavam todos calmos, e outro membro estreante da noite tomou a palavra.

- Oi, bom dia, meu nome Gilberto, mas todos me chamam de Gil, mas podem me chamar de Gilberto, ou Gil se quiserem...

(Bom dia Gilberto)

Olha, eu não sou  viciado... não, não que vocês sejam, é que, eu não, eu não deveria nem estar aqui, só faço isso pela minha mãe, e... eu jogo, jogo jogos, de vídeo games, desde a época do Nintendo eu já sou desse jeito, minha fala que eu não tenho salvação, e no fundo eu sei disso. Já roubei, já matei, já usei hacker, ain, trapaças, password, e tudo mais, já freqüentei lan houses, locadoras, e também, jogava qualquer tipo de vídeo game, não importava o ano, nas minhas recaídas jogava até polystaion, minha mãe me pegou usando um atari um dia. Sentir-me mal depois disso, me sinto até hoje, quando lembro aquele controle molhado de suor na minha mão, aqueles meus olhos fundos depois de zerar o Pokémon. Como não tinha memory card, era tudo na raça mesmo.

Já passei também por varias instituições de tratamento, não nego que no começo era fácil, eu achava que ia tirar de letra, ainda até posso tirar, pena que minha mãe não pensa mais o mesmo. Ela acha que sou viciado, da pra sacar? Um cara como eu, sempre fiz bem às coisas, se ela pedia pão de sal, eu trazia pão de sal, se ela falava, passa no mercado e trás leite, eu trazia. Tudo bem que às vezes eu pega o dinheiro e ia jogar, mas só nas recaídas, não foram muitas vezes, só umas... 80, por ai, nada que merece passar o que estou passando.

Pra vocês terem noção, eu já fui campeão estadual de game boy advancer, um feito meio foda, para uma pessoa que vem da pobreza como eu, eu nunca usei meu wii, ele ta lá na estante, fala, fala pra mim, que favelado que é q não usa seu wii pelo menos duas vezes no dia, que favelado que não da uma correria no play 3, toda noite? minha vida é difícil, era uma luta a cada dia, no dbz, kof, ff7,dd, sempre lutando mesmo, no the sims mesmo, minha família tinha do bom e do melhor, ninguém reclamava, tinha até uma filha a caminho.

Então é isso, esse foi meu depoimento aqui pra vocês, pra vocês entenderem que não sou viciado, quem não gosta de jogar? Quem? Quem nucar pegou uma partida de guitar hero e depois uma noitada de futebol, o mais novo, quem nunca fez isso? Que culpa eu tenho se todo dia na frente da minha casa o cara passa gritando 3 por 10, 3 por 10, é dura cara, é duro.

(palmas)

Gilberto foi abaixando a cabeça aos poucos, viu que tinha se altera um pouco, mas viu que todos o entenderam seu drama e lhe apoiavam.

  (silêncio)

Anham , então vamos para o ultimo da noite, Jorge fale um pouco sobre você para esses novos membros, de uma pouco de esperança para essas novas almas.

- bom dia, eu sou o Jorge.

(Bom dia Jorge)

 Olha galera, muita gente já me conhece aqui, e sabe minha história, mas não custa falar mais uma vez, não custa relembrar esses meus 2 anos, 7 meses, 5 dias, 4 horas e...27 minutos sem me dopar.

Eu comecei bem novo aqui como a maioria de vocês, o meu negócio era mais aventura do que mesmo as consequências, sabe, me enchia mesmo, não media quantidades, era comprando e mandando pra dentro, eu era viciado em halls, assim como o Gilberto pra mim não tinha descriminação, era menta, melancia, melão, uva , morango, cereja, qualquer uma, em qualquer hora, não importava o valor também, podia ace, creme, tablete, cartucho, não importava mesmo.

Meu salário ia todo nisso, eu achava sempre que estava abafando, chega as minas, eu dava um hallszinho, puxava pra um canto e tal, aquilo me ajudava bastantes com as mulheres, ai que foi mais duro de largar, aquilo me deixava no auge, não tinha tempo ruim. Mas ai as coisas foram engrossando, eu atrasava aluguel, ficava sem comer, não comprava nada, nem água e luz eu pagava, era a deus dará.

Foi quando eu comecei a me envolver com os distribuidores, eu comecei a vender, sabe, pra uns amigos, na caixinha no ônibus, nas sinaleiras, só pra manter meu vicio mesmo, tudo que eu vendia, eu consumia depois. Ai fui evoluindo, abrir uma barraquinha, só de halls mesmo, tinha até estrangeiro, tinha também os piratas, saiam bastante até. Só que a barra ficava cada vez mais pesada. A policia me parava diariamente pra querer aquela balinha do fim de semana, sabe como é policia brasileira né? Sem a balinha do fim de semana nada feito.

Ai eu fui pras cabeças, fui chamado depois de fazer uns contatos ai, para trabalha no coração, na fábrica da halls, era tudo que eu queria, só que sabe como é vicio, nessas horas o inimigo atenta, eu usava na boa, ninguém nem notava, foi quando eu tava ficando escondido dentro do balde de sobras , pra passar a noite na fabrica, e era só alegria, mas meu erro foi não ter me controlado, pois nessa época era o halls que me controla.

Eu não sabia que meu chefe via tudo pelas câmeras de vigilância da fabrica, logo fui chamado pra dar explicações, ai ficou tenso, ele não entendeu meu lado, eu expliquei do meu vicio, foi ai que ele ficou bruto no baratinoso, e prestou queixa, eu peguei três dias de cara, três longos dias de cana, e sair ainda por justa causa, os cana me bateram, eu fui humilhado pelos outros detentos, foi uma época punk, muito doida mesmo.

E é isso gente, esse é um pouco da minha história, ai depois o Carlos me adotou aqui o encontro, e daí em diante nunca mais botei um halls na boca, tive recaídas também, mas nada que fizer-se eu abaixar minha cabeça, sabe, então é só um bom dia pra vocês.

(palmas)

E assim termina mais um dia na DVCA tentando recuperar almas, e corpos de pessoas sofredoras. Se você ou tem algum familiar nas mesmas situações ligue para: 033 33663366
E seja feliz.



   



Comentários

  1. Nodachi e seus textos!
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    VICIADO EM AZEITONAS?

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