Virose




‘’Rodolfo o Dr. Virose’’
Por: Junior Nodachi

Rodolfo Nogueira Peixoto Neto. Rolf para os íntimos. 54 anos, 1,76 de altura, 94 quilos, cabelos grisalhos, sorriso amarelado e um belo e simpático olhar amistoso.  Filho de Maria Peixoto silva e Arnaldo Nogueira Peixoto.

 Sua escolha de profissão já vinha planejada por seus pais desde antes de seu nascimento, pois todos queriam um medico na velhice. E assim foi. Ao entra na faculdade, publica deveras, mas com pouco esforço como ele esbravejava do céu ao inferno.

Logo nos primeiros semestre ele conheceu sua paixão. Não era uma aluna, nem uma arte, e sim o tão valorizado ‘’jeitinho brasileiro’’. Adepto do modo antigo de trabalhar, pra ele tudo podia ser curado de um modo fácil e pratico, sem nada muito tecnológico, ou como ele mesmo dizia ‘’futurista’’.
Não era o melhor, nem o pior aluno da classe, era um aluno razoável. Em suas provas, ou na residência já mostrava uma desenvoltura notável em tratamento ao público, ou aos pacientes, como preferir.

- Rodolfo, ela esta com pressão alta, febre, e reclama de dor no fígado. O que poderia ser?
- Virose! Isso só pode ser virose.

-Rodolfo, ele teve uma ataque cardíaco recentemente, e diz que não conseguir respirar bem.
- Essa é fácil. Virose, ele tem virose.
 
- Dr. Rodolfo, ele teve um traumatismo craniano e pode ter hemorragia interna. Qual será o procedimento?
- Nenhum claro. Não vê que isso não passa de uma virose mal curada.

E assim Rodolfo levava sua vida, dia após dia, semana após semana. Uma vez sua filha tinha se cortado com um estilete, com medo de sua filha pegar tétano Dona Marta chamou Rodolfo.

- Rodolfo! Corre aqui.
-O que foi Marta? Que escândalo é esse?
- A Julia se cortou, leva ela lá no hospital e da uma vacina antitetânica.
- Marta, Marta, rsrsrsrs, tantos anos casado com medico e ainda não conhece uma virose quando vê uma? Francamente Marta

Com isso Rodolfo ai tomando se tornando um exemplo de medico. Fazia palestras, escrevia livros, participou até de uma serie no Fantástico uma vez. Era a estrela do Hospital João Serafim Benjamin de Holanda Barros. Era uma sorte uma família ser atendida por tal rigoroso medico.

Seu pai passava mal uma noite dessas. Dona Maria ligou pra seu filho ‘’medico doutor’’ como ela se gabava pra as amigas, ele atendeu meio sonolento, pois já passava das duas da manhã de um domingo. Ela falou que o seu pai estava sentindo dores no peito. Ele pediu para que ela passasse o telefone para o pai, e ela passou rapidamente, seu titubear. Rodolfo falava com o pai, e o pai com Rodolfo. Dona Maria morria de preocupação, botava as mãos rentes e rezava pela melhorar de seu marido. A conversa logo acabou e Rodolfo virou na cama e dormiu. Marta o cutucava querendo saber o tinha acontecido, mas ele só bufava falando que o pai estava com uma virose, e Marta começava a se preocupar com seu sogro Arnaldo.
Na manhã seguinte, bem cedinho mesmo, o telefone tocava desesperadamente no criado mudo ao lado da cama de Rodolfo. Era seu irmão. Ele soluçava, e rangia dos dentes. Foram minutos até ele contar que o pai tinha morrido durante a noite.

Rodolfo pulou da cama como um jato e foi pra o hospital. Lá a família chorava a perda de Arnaldo. Na mesma semana do acontecido, Rodolfo estava pelando em febre. Delírios iam e vinham e seu braço esquerdo doía muito, sua cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento. Sua mulher chamou a SAMU as pressas, tudo isso contra a vontade de Rodolfo, que usava sua força pra gritar que não queria morrer numa cama de hospital fria e solitária como seu pai. No hospital todos esperavam uma noticia, pois Rodolfo já estava em uma sala com um medico novo que tinha vindo do Hospital estadual.
 Quando Rodolfo perguntou, com lagrimas nos olhos e sua cara de descendente de italianos, toda vermelha.

- O que eu tenho doutor? Não me esconda nada, eu sou medico também.
- Dr. Rodolfo não se preocupe com isso
- Como não me preocupar? Isso é quase um derrame, eu tenho certeza.
- Não Dr. Rodolfo, errou por muito, rsrsrs, o senhor esta com uma virose, nada que um xarope não cure.

E assim o medico do Hospital Estadual saiu do quarto, para comunicar à família que o susto não passara de um alarme falso.
Momentos depois enfermeiros corriam na direção do quarto de Rodolfo, mas isso já outra história.

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