Infantil







‘’ Memórias póstumas da infância’’
Por: Junior Nodachi

Um problema mais que antigo se abate incessantemente sobre nós. Sobre nossas cabeças escaldadas pelo sol está a infância perdida ou desfrutada, contra a frieza nudez da velhice, do adulto. ‘’Maduro como um mamão’’ seria o que minha avó me diria se eu tivesse uma pra me dizer. Assim como a bala de maçã verde, que não é mais verde.  Estão todos procurando cores novas, definições novas para um assunto velho – cresça menino, você é tão infantil – paralisado no tempo. Talvez pela dificuldade instalada no córtex de cada um, ou pela avalanche de abomináveis e execráveis humanos revelados por abalos nas camadas mais fundas da sociedade. A infância tão ‘’preservada’’ e protegida a sete chaves, sete não, 189 chaves de quatro pontas forjadas a laser. A infância protegida que cada sociólogo, intelectual, ator, e participante do BBB, esbravejam ao mundo, morreu.

Diante de tal noticia, a sociedade permanece parada e perplexa. Uma pergunta paira no ar, como o cheiro da vergonha que exala de entre seus braços suados. ‘’Onde poderemos depositar nossas justificativas para os atos inconseqüentes e inapropriados que fazemos?’’ O fato póstumo a morte da infância é o atordoamento. Milhares de jovens promessas, milhares de jovens ídolos, dançarinos da internet, lendas dos jogos, trabalhadores frustrados, crianças de cara borrada, cabelos lisos, músicos. Todos nas ruas, andando como em uma realidade pós- apocalíptica e sem vida.
Situações diárias se tornam pactos de conduta indiferente. Um garoto correndo atrás de uma bola roxa por uma rua, rindo e saltitando é logo repreendido – garoto desenvolva!!! A infância morreu. Você não sabe disso? – e logo ele pega a sua bola roxa e a fura numa grade de portão, rege uma expressão mortificada e segue a procura de algo realmente relevante pra sua vida.

A caminhada segue, o luto passa. Enfim a infância é esquecida. Nada se torna divertido, a rotina se torna a maior demonstração de prazer. Prazer? Sim, ora. Mesmo tendo sucumbido junto da infância o prazer renasceu, remodelado, é claro. Cabelos penteados pra trás, roupas neutras, uma menina sem batom vermelho, olhos sempre alertas e uma perfeição em cada movimento. Seja em ir ao mercado comprar item uteis para alimentação, ou em fazer sexo como o melhor parceiro genético, tendo em vista a passagem dos melhores genes para as próximas gerações.

Não existem mais perguntas bobas e sem nexo como; ‘’O que você vai ser quando crescer?’’ Eles já são grandes e formados, desde o momento de sua concepção, um espermatozóide maduro e cheio de si, que já nasce preocupado com o estereótipo que deverá seguir. Maquiadas e prontas pra matar, limpinhos e calculistas. Sozinho só a lama do quintal, os animais da fazenda e os velhos loucos que não aceitam o fim trágico do seu bem mais precioso.

Para eles, esses velhos loucos. Só resta a frase pertinente de seus netos; ‘’cresça meu avô, cresça e sinta a magia do Ser adulto, antes que o senhor morra como uma criança que não viveu.’’  

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