A história de Arthur.




A história de Arthur.
Por: Junior Nodachi

‘’O escritor’’

-Oi. Meu nome é Arthur, tenho oito anos, e meu sonho é ser... Eu realmente não sei o que pretendo ser, dizem que sou novo demais pra pensar nisso, dizem que sou novo de mais pra fazer quase tudo. De certa forma é um lado bom de ser eu. Não preciso de metas, assim não tenho decepções.  É como minha mãe sempre diz: ‘’você puxou a quem Arthur? Nem parece meu filho. Você é muito precoce, sabia?’’. E eu, por vezes respondo: ‘’eu sei mãe, a senhora já disse’’.
Arthur continuava a olhar para a folha em branco do caderno e pensar no que iria escrever. Ele desejava passar uma mensagem seria, não só contos de solidão, fabulas cotidianas, ou devaneios de uma criança ‘’precoce’’ como dizia sua mãe. Ele queria algo mais.
Por vezes olhava para janela larga e de vidro fino, que refletia uma rajada de luz para dentro de seu quarto azul. Olhava e pensava como seria lá fora, imaginava e imaginava, mas nada fazia. Ele não era muito de sair e brincar, não gostava de multidões, ou de crianças.
- Como posso ter duvidas com um pequeno pedaço de papel, tenho oito anos, sou quase um homem feito - Dizia paras as paredes de forma shakespeareana. E as paredes por sua vez, aceitavam de bom grado sua reclamação - Por isso gosto de vocês, nunca dizem o que devo ou não fazer – disse novamente em direção das paredes, agora expressando um breve sorriso.
Arthur se deitou sobre a escrivaninha, como se ali fosse sua cama, ou um ninho de Pardal, seu animal favorito. Queria quando mais novo, ser um passarinho, e perguntava pelo menos duas vezes ao dia para sua mãe quando suas asas iriam nascer. Agora estava ali, pensando na sua mãe Pardal, e nos seus irmãozinhos Pardais cantarolando ao seu lado. Fechou os olhos e em nada pensou, só escutou o som dos Pardais que moravam na arvore do vizinho.
Seu quarto era o típico quarto de criança. Azul Celeste com detalhes em um tom de gelo, claro feito a pele branca da filha do vizinho, garota que brincara às vezes, na maioria delas, obrigado por sua mãe. Com estantes cheias de carrinhos e bonecos. Um em especial estava completamente sujo de lama, ele o apelidara de ‘’Calango’’, talvez pela influência de sua mãe, nordestina de nascença, e pelas visitas a casa de seu avô em Pernambuco.  Dissera uma vez para o avô, que lhe contava uma história, que queria por que queria ser Cangaceiro. Seu avô, velho carrancudo e de expressão feiosa, mas muito gentil com o neto, dava gargalhadas seguidas de pequenas tosses e falta de ar.
- O cangaço se foi há tempos Arthur.
- Mas não me custa muito me tornar o últimos deles.
- E que tal bombeiro? Eu sempre quis ser bombeiro.
- Não, não é o que tenho em mente.
- Jogador de futebol! É perfeito, igual seu pai quando mais novo. Ahh... Antonio deveria ter seguido carreira, poderia ir até pra seleção...
- Não, nem gosto de futebol, assisto só para fazer companhia ao pai, às vezes.
- Você é muito precoce Arthur – repetiu o avô as palavras da mãe. Enrugando um rosto com um sorriso meio banguela.
Arthur adora esse sorriso feio, se sentia confortável, mas demasiadamente contrariado pelo sarcasmo do velho.  Que era um velho tão velho quantos os outros velhos, mas um velho diferente. Certa vez lhe disse, enquanto Arthur fazia um discurso cheio de gás sobre as datas comemorativas serem só um apelo comercial das indústrias em busca de lucro. – ‘’ Sou mais novo que você, Arthur. E você é mais velho que todos nós’’.
Arthur confessara muitas vezes em seus pensamentos que não entendeu bem a frase do avô, mas gostara mais de ser comparado a um velho, do que ser rebaixado aos seus recentes oito anos, oito anos e meio, gostava de ressaltar.  Agora Arthur levantava sonolento de seu ninho de Pardal na escrivaninha, com os olhos ainda meio fechados, vendo sua cama de lençol azul com carrinhos amarelos, fuscas amarelos, mais uma vez ressaltava Arthur em sua cabeça, pois gostava de separar as coisas, separa os carros dos bois.
Sentado e de cabelo amassado, vestido no pijama azul que sua tia lhe dera, coçava a sobrancelha e resmungava – Por que tudo meu tem que ser azul? Eu nem gosto de azul, gosto de verde, ou de preto, mas nunca fui fã de azul. – pegava seu grafite verde, e o posicionava em cima da primeira linha do caderno. Pensando que deveria ter escrito no computador, mas que dessa forma ele sentiria o que sentiu os escritores do tempo de ‘’bolinhas’’.
- Pelo menos agora já tenho um titulo para minha obra prima: ‘’Mais novo que você e mais velho que nós’’.

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