O menino motorista








O menino nem sabia o que era a vida, não tinha expandindo a visão além da janela da casa branca, não estava claro ainda para seus olhinhos pretos verem, mas lá estava ele com uma tampa de panela na mão, dirigindo e dirigindo. A mãe perguntava vezes sim, vezes não, o que ele estava dirigindo. E a mesma resposta ela ouvia numa voz seria, pois ele era serio, era motorista de ônibus.



Andando de cima pra baixo no quintal e fazendo a volta no portão da frente, assim eram as noites do menino motorista, claro que devidamente seguro das leis de transito ele carrega uma lanterna na mão direita, dizia ele ser o farol do BTU vermelho que ele manobrava nas esquinas do seu quintal. Não pense que ele era um garoto solitário de hábitos simples e imaginação fértil, ele nunca andava sozinho, era diariamente seguido pelo ônibus da AXE do seu irmão, o Rio Vermelho do seu vizinho, e sua melhor passageira.  Lá a noite continua escura, com todas as luzes desligadas, menos as luzes das três lanternas que cortavam o preto.



Hoje eu queria saber se o garoto realizou seu ‘’sonho’’, e se hoje dirige um BTU vermelho pelas ruas da cidade, eu provavelmente nunca vou saber, ou se os outros o fazem também, mas me peguei pensando que nesse tempo de greves de motorista, como o menino reagiria a tal falta que os ônibus lhe faziam.


Usando minhas palavras de narrador, eu acho que ele se sentiria usado pelo governo, onde seu maior prazer se tornaria uma grande dor de cabeça e com consequências, pois meninos são meninos, mas imagine você também, esse menino puxando a mão da mãe, levando ela até a frente da televisão e dizendo que ele também deveria ir para rua, deveria protestar, pois como os outros ele era também era um motorista de ônibus, que cumpria seus horários. Nunca tinha deixado um passageiro no ponto, nem a filha da vizinha que ao ‘’subir’’ no ônibus botava a mão em sua cintura e aperta bem forte, nem no irmão que quando não estava dirigindo subia no ônibus sem pagar passagem, ou no amigo ‘’eterno rival’’ que fazia sempre ultrapassagens perigosas, era motoristas natos.  


Comentários

  1. Nostálgico.

    "Minhas escolhas me guiaram ate aqui
    Quando eu retornar é porque eu consegui..."

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