Sorte no Jogo, azar no amor.




‘’Sorte no Jogo, azar no amor. Ou seria ao contrario?’’
Por: Junior Nodachi


Você pega um ás de espadas e um seis de ouro.  Você olha nos olhos do adversário e se pergunta se é amor ou jogo. Pra mim isso nunca deu certo, sempre foi jogo, nem sempre jogado, uma estratégia, é sim, tudo pensado, calculado, computado, é uma função sem resposta. É uma bosta.

Sorte? Eu nunca tive sorte, nunca pude me dar ao luxo de acreditar no destino, no universo, no pressentimento da vovó nem no choro do menino amarelo. Você conta as possibilidades, a probabilidade, as variáveis, se no final quiser calcular a sorte, calcule. Pode ser desconfiança, preocupação, mas pra quem nunca ganhou, não passa de gana.

Outra carta sai. Você olha, ré-olha, tré-olha. O cara da direita pisca o olho esquerdo, o da esquerda tem um tremor na mão, tremor involuntário, tremor do musculo, que ele nem sabe que tem. A aposta é feita, o sorriso ninguém tem, e se tiver é falso, sempre é falso, se acreditar você esta condenado.

A cor do cabelo dela é preto. Na verdade eu não reparei direito, é algo como preto, então é preto. Seus olhos? Pretos também. A cor da sua pele? Acho que é marrom, eu também sou meio marrom. Ela falava algo que eu não lembro. Dizia que eu não deveria acreditar em algo, e que eu deveria acreditar em outra coisa, que isso sim era verdade. Na verdade, eu nem prestei atenção. É melhor não prestar, pois eu tenho sorte é no jogo.

Aposto metade do meu dinheiro. Todos ainda me olham de forma desconfiada, um sorriso eu vejo, é meu sinal tão esperado, é calculado, cada passo dado, cada movimento estralado, cada engasgado com o conhaque quente, cada lábio molhado. Seu dedo coçou ou você esta mentindo? Isso vai depender da sua jogada. A aposta é coberta e outra carta lançada. A garganta gela, a mão é gelada, da pra sentir daqui, o frio emana pelas ventas, pelas fissuras, pelos poros, e tudo fica congela.

Ela me falou que eu tenho azar no amor e eu disse pra ela que tinha azar no jogo. Ela disse que não fazia sentido e me mandou embora, mas eu não fui embora, eu fiquei, eu sempre fico, pelo menos eu acho que fiquei. Eu até sairia, mas não sei a mão jogada, ela esconde as cartas, ela não treme, não pisca, não se mexe, elas esta morta. A única coisa viva é a palavra, a palavra fria da aposta pesada.

Aposto todo meu dinheiro. Essa foi a ultima carta. Todos olham de lado, um até desiste e assim o montante se engrandece. É muito olhar e pouca jogada, se você chegou até aqui, pra que desistir, faça, vá, avance, jogue, aposte, ela não aposta, mas você aposta, é um enganador nato, engane o destino, o passado, lute pela mesa, eu sou um mentiroso, um detalhista. Sim os detalhes fazem diferença. Mas como é o nome dela mesmo? Maria, talvez, ou Joana? Quem se importa, ela não é minhas cartas, ela não é nem minha. É alta ou baixa? A aposta eu sei que é alta, alta e arriscada. Eu lembro de um cheiro de fumaça, ela fuma? Ou é essa mesa molhada? Molhada e impregnada pelo cheiro dos charutos ricos e piratas.

As cartas são mostradas e as fichas são puxadas, meu dinheiro vai embora diante dos meus olhos, até meu relógio de ouro eu não irei levar pra casa. Maldito sorriso que me engana de novo. Casa... Eu tinha uma casa, não era minha, era dela, mas era boa, não como ela. Eu poderia voltar, bater em sua porta, mas eu não lembro onde ela mora, não reparei, só reparei nas suas costas, ela mostrava a alça do sutiã quando ia embora. Embora. Embora. Embora. E eu fiz o que? Eu apostei? Eu corri o risco? Eu apostei tudo? Não, que nada, pois só tenho sorte é no jogo.


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