Chorando areia no inferno seco
- Eu sou uma longa história. – Dizia o pecado ao pecador.
Enquanto ele pensava, olhava, refletia na mais simples verdade errônea da sua
vida. Pensava no medo de mais uma vez viver nas cavernas subterrâneas da
solidão escura. Algo muito filosófico pra uma história tão longa.
- Todos querem novas chances, maquinas do tempo, salvações, perdões, solução. –
Dizia mais uma vez o pecado de cara magra, ralo e esquelético, como a dor
presente em seus olhos fundos de vida não mais incandescente.
Tocava o pecador no ombro com seus dedos magros e frios, e o pedia para
levantar-se, de forma misericordiosa e melancólica. O pecador se levantou, não
por querer levantar, a vergonha lhe consumia, nutria-se do passado da virtude
de uma vida, assim como o pecado que bebia seu sangue e alma a cada olhar,
tentando de uma só vez, sugar de tal forma tudo que fora construído de bom pelo
pecador a ponto de deixa-lo corado e forte.
- Pague-me, o que deveres ao mundo! Pague-me o que deveres a mim! – Bravejava o
pecado, cuspindo sua saliva mais seca na cada do pecador. – Pague-me enquanto
tem alma, e aceite sua pena, pague-me! Aceite que não será mais o mesmo, será
magro como eu, feio como eu e assim permanecera até um outro alguém pecar.
Pague sua pena, e espere o troco, a revanche, a troca. Espere como eu esperei o
dia em que sentirá a dor que o pecado que você gerou ser gerada contra você, e
só ai estará livre a se nutrir de coisas boas novamente. Espere a traição que
infligira, espere a morte que causara, espere as lagrimas que derramaram te
banharem como uma tempestade, até que seu coração se aperte com tal força que
seu átrio seja seu ventrículo e que seu ventrículo seja sua aorta. E só ai,
neste momento de dor inigualável, morra. – completou o pecado.
- Eu não queria ver, eu sei o que fiz, e sei o que virá, sei
que virá dor, e que será forte. Não adianta me redimir a tua benevolência e
compreensão, pois meus argumentos são vazios, são pequenos, assim como meus
atos. Permanecerei no inferno descrito por Dante, e de lá só sairei puxado pelo
braço por você, que lá um dia eu gerei, dentro de mim, ó Pecado, como um filho.
– Disse o pecador apertado o braço do pecado, enquanto seus olhos afundavam
juntamente com seus ossos afinando.
- Eu sou teu filho, nascido de te, e do teu lado
permanecerei a te atormentar pelo teu erro. Não seras perdoado, pai, não seras
confiável, pai, irá ser traído e humilhado, pois é o que merece, pai, aceite, ó
pai. Achas mesmo que alguém te dará a mão? Que te tirará daqui e te abraçará?
Entendes a gravidade que infligira? Entendes que seu amor não vale de nada aqui
e sua esperança irá se dissipar a cada dia? Parece que não entendes sua real
situação, pai. Aqui está, a cadeira de carvão que construí pra te, senta-te e
espera. Quem sabe daqui de quatro a seis anos ou de quatro a seis vidas possa nutrice novamente do que Ela emanava – Disse o pecado, enquanto seu rosto vermelho
e saudável da virtude que se nutriu, brilhava a luz do fogo enquanto o pecador respirava
medo e chorava areia.
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