Silêncio





Me deparei com o silêncio.
Um abismo, uma cratera, não soube lidar com tamanha imensidão.
Olhava para os lados. – BOA NOITE! – Eu gritava, e nada... nem ressoava nas paredes, nem uma forma de eco acolhedor.
O silêncio continuou, eu achava que tinha algo de errado comigo, estalei os dedos próximo aos ouvidos, dei tapas nas bochechas, bati e serrei os dentes uns nos outros.
Me deparei com o frio, quando queria quentura, me deparei com a distância, quando acreditava no amor. O berro não sai da minha boca, nem chega aos ouvidos dela.
A noite nem era tão escura, não chovia, não nevava, clima ameno, olhares distantes e cheiro de cidade limpa. Não estávamos num monologo do Scorsese estrelado por Robert De Niro, não existia ódio, nem dor ali comigo, só o silêncio.
Não sou dos mais silenciosos, me alimento de palavras, de diálogos, de risadas, por isso me assustei, e temi não escutar mais.  
Paramos, sentamos, comemos, e eu ali, a espera do mastigar, do engolir, do barulho da Coca abrindo, do papel amassando e nada novamente.
Me prendo a detalhes tão pequenos. Mas não são esses detalhes que me fazem ser o que eu sou e saber do que eu sei?
Finalmente me acostumei ao silêncio.
É calmo de dia, é calmo de noite. É solitário, porém é quentinho, sem crítica, sem dúvida, sem pressa, um passo após o outro.
Atenção! Muito atenção ao atravessar a rua. Não se escutas mais as buzinas, nem a sinfonia da admissão, compressão, explosão e exaustão. Temos outros sentidos, tudo parece para mim mais a flor da pele, eu sinto mais, eu vejo mais, vejo as rotinas, sinto a pele dela com pequenas ondulações, a respiração.
Nossa... ela está viva! Tem um coração só dela, que bate forte como um trem na ferrovia.
Como um trem na ferrovia... tumdum tumdum tumdum tumdum tumdum...
Eu estou escutando.   

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